quinta-feira, 10 de outubro de 2013
A festa da Liga
Era um evento, que acontecia sempre na última semana de cada ano e servia pra unir, em comemoração os 2 colégios administrados pela Liga das Senhoras Católicas, faziam-se apresentações de coral, teatro e a fanfarra e encerrava-se sempre com o "bode". um saco tamanho família, que continha doces e brinquedos.Servia, tambêm como rito de passagem para os meninos da Casa de Infância do Menino Jesus, que passavam a conhecer de perto, onde iriam passar a viver.
Como eu, todos os meninos, que vinham da C.I.M.J tinham dificuldades em encarar a nova realidade, pois eles vinham de um colégio administrado por freiras, por consequência, acabavam sendo as vítimas prediletas no Bullings, onde impera a lei do mais forte, o que vacila é perdedor.O que explica o fato de esses meninos ficarem sempre juntos.
Sempre foi assim, mas na festa de 1976, a coisa piorou de vez, logo na minha vez.
Havia na Casa da Infância, um freira espanhola, de nome Lourdes que, empolgada com os musicais progressistas da Broadway, resolveu que naquele ano, os meninos iam apresentar uma peça, ao invés do habitual coral de sempre.
Ah, ainda me lembro dos ensaios, o negócio seria...tipo HAIR, tudo colorido, musicado e tudo mais.Se tem uma coisa que um guri não precisa, quando está pra entrar no inferno, é, por em dúvidas, a sua sexualidade, foi por conta disso, que eu disse, pra santa madre Lourdes que, por dinheiro nenhum no mundo, eu ia entrar num palco, vestido em meias calças.
Na sua inocência, a freira achou que nos ajudava, eu estava nas cadeiras, do teatro, quando meus amigos passaram, em direção ao palco, fiquei com tanta vergonha quanto eles, a peça foi uma vaia só, do início ao fim.
Em Fevereiro de 1977, o carro da C.I.M.J, deixou eu, o meu irmão Nilson Victorino, o Sebastião, o Helio, os irmãos Adalberto e Gilberto Camargo e o Luis Sergio, em frente ao pavilhão 14, enquanto estávamos na fila da rouparia, os meninos, já se perguntavam, quais de nós, haviam dançado na Festa da Liga.
domingo, 6 de outubro de 2013
Seu Alones
Quando guri, trabalhei na olaria, trabalho duro pra uma criança, mas dava um dinheirinho.Num belo dia apareceu por lá, a comissão de direitos humanos da OAB e ficou caracterizado como trabalho escravo, lacraram tudo.Fui trabalhar na administração trabalho de escritório, lá trabalhavam 3 ex-internos: O seu Reginaldo, o seu Alones e o seu Tinoco, eu fui designado pra ser o auxiliar do seu Tinoco que era o mais velho deles, um contador à moda antiga, (daqueles mesmo de livro-caixa, lápis preto e polainas), era mal humorado e ainda usava roupas do tempo do império.
O fato de ele ser octogenário e ter a coluna um tanto arqueada , enganava os meninos desavisados, olhavam-no e achavam que poderiam tirar farinha, ledo engano, diante de meninos bagunceiros, ele se movia com extrema habilidade e a mão era pesada, vira e mexe, algum guri tomava um tapão na orelha.
Eu me dava muito bem com ele, ainda que muitas vezes, eu o fizesse chegar ao extremo de arfar de raiva, por ser contrário às suas opiniões, foi com ele que eu descobri o local exato, onde as tropas de Getúlio Vargas, que vieram do Paraná, passaram e surpreenderam o destacamento de Pinheiros, no inverno de 1931.
Mas, isso é outra historia, eu vou contar uma, sobre o seu Alones, que diferente do seu companheiro, era mais moderno, sabia usar uma máquina de escrever elétrica e sorria o tempo todo, apesar de ter uma cabeleira branca, era ligeiro e amistoso(tipo de gente que, hoje em dia é chamado de sangue bom)De fato, não havia quem não gostasse dele, até porque, toda tarde, depois do expediente, só havia um lugar pra encontrar o praça.Muito da energia e ligeireza do atlético senhor era devido à sua excepcional forma física, ele tinha, por habito, bater bola. Entre o campão e o campo de cima, havia uma faixa de terreno, de terra vermelha batida, onde todas as tardes, os funcionários jogavam futsal.
Todas as tardes, todos os dias, tinha jogo naquela quadra, geralmente, era entre os funcionário, as partidas, se faltasse alguém, completava-se com algum interno, mas ele nunca faltava, podia-se sempre contar que, às 16:00 horas você ia vê-lo sair da pensão, em direção da quadra, com seu indefectível calção branco com listras vermelhas nas laterais, todo santo dia, sem falta.
Ali, na quadra de terra,acontecia uma metamorfose...aquele cara boa praça, sempre que começava um "racha", ele virava um bicho.
Tem gente que é assim, entre no jogo e vira outro, deixa de uma pessoa de bons modos e quer ganhar à qualquer custo e, ele passa a ser uma pessoa odiosa, o seu Alones era assim, xingava, esbravejava e, batia até na própria mãe, se necessário, pra ganhar um jogo.Um dia, eu cai na besteira de aceitar o convite, entrei no jogo, na vaga que faltava, fiquei no time dele e, é claro, perdemos o jogo.O homem só faltou me fuzilar, me disse todos os palavrõ
es do mundo e ameaçou me capar e, por incrível que pareça, a falha, que resultou na derrota, foi ele, quem cometeu e...dizer o que ? eu era o único menor no jogo e o cara, ainda por cima, era meu chefe.A vontade de mandá-lo às favas vinha, mas, eu sabia que aquilo era momentâneo, ao passar 5 minutos, o sangue esfriava e ele voltava a ser o cara de sempre.
No dia seguinte me cumprimentou pela manhã, como se não tivesse acontecido nada.
CONTINUA.
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