Tudo tinha horário, depois do almoço um pouco de televisão e, logo subíamos pro dormitório. Hora de descansar a sesta, pra mim era hora de tortura, nunca me habituei a isso.
Deitávamos nas camas, jogávamos a toalha
de mão sobre o rosto "dormíamos" até as 14h00min horas, a Rúbia
passava por todas as camas, em revista, e sempre descobria que eu e Fernandinho
não estávamos dormindo e como sempre vinha o castigo, (castigo pra ela, pra nós
era uma compensação) mandava que nos levantássemos e nos dava um cesto de vime
ovalado, que servia pra acondicionar as roupas, tínhamos que descer até a
rouparia e pegar as roupas da troca.
Na saída do dormitório recolhíamos o tapete em forma de pé, que
ficava na entrada do banheiro, jogávamos-vos dentro do cesto, felizes da vida
cruzávamos o hall dos dormitórios e chegávamos às escadas, no começo da escada
púnhamos o cesto no chão, um de nós se sentava na frente, o outro o empurrava e
pulava pra dentro, o cesto descia carregando-nos e, apesar da felicidade, não
podíamos gritar.
Até o térreo, contavam-se quatro lances de escadas e a cena se repetia, sempre trocando a posição dos navegantes, no último, onde se podia ver o bairro do Ipiranga pela janela, nos separávamos, um pegava o pezão e o outro ficava com o cesto.
Até o térreo, contavam-se quatro lances de escadas e a cena se repetia, sempre trocando a posição dos navegantes, no último, onde se podia ver o bairro do Ipiranga pela janela, nos separávamos, um pegava o pezão e o outro ficava com o cesto.
O corrimão era largo, a pedra do
acabamento tinha cor de barro e era lustrado periodicamente, para alcançar o alto
do corrimão e se sentar na posição de montaria, um tinha que ajudar o outro,
fazia-se a posição de cadeirinha com as mãos e o outro punha um pé, um impulso
e pronto... sentava-se no tapete e se deixava escorrer, ao outro cabia descer
sozinho no cesto.
No térreo, um longo corredor com sete portas que levavam aos pátios,
no fim do corredor havia uma porta dupla azul que dava pra uma sala enorme, do
lado oposto ficava a cozinha, sempre se via as vovozinhas, pelo guichê aberto,
quando se entrava na sala, se deixava nas costas um grande relógio de pêndulo
que batia de três em 3 horas, (isso, por si só, já era assustador) mas não era só.
Ao lado do relógio, tinha uma moldura do Sagrado Coração de Cristo que
seguia-nos com os olhos, de qualquer local da sala se podia ver que a imagem
olhava direto pra si.
Nesse ponto, o fato de todos
estarem dormindo e nós nos divertindo, dava certo temor, passávamos ali correndo...
até a próxima escada, mais dois lances e chegávamos à rouparia, a Margarida
ouvia a sua rádio novela e sempre estava de mal humor, enchia o cesto com as
roupas ainda quentes.