Já disse várias vezes que, fui criado por mulheres, muitas mulheres, sem
ter a parte paterna na minha criação, fui meu próprio pai.
Contrariando o que as pessoas pensam, meninos criados por mulheres não
são efeminados, esses são meninos criados pela avó ou por mães solteiras.
Meninos que são criados por várias mulheres são profundos respeitadores
do sexo frágil, tornam-se cavalheiros e as defendem com unhas e garras, são
capazes de enfrentar um batalhão sozinhos e só se ajoelharam diante de uma
mulher, sem a velha lengalenga de se qualificar como hetero, na cabeça dele,
Deus fez a mulher com o seu material, do resto veio ele.
Se na infância, a bola nos regia e nos mantinha unidos, na adolescência
descobrimos o encanto das meninas, seu perfume e seus lábios carnudos.
Deixamos de ser gladiadores e nos tornamos amantes, as meninas vinham de
séculos de repressão e, no início da década de 80, a represa se rompeu de vez,
todo simples rolê acabava em sexo...podem perguntar, se não me acreditam.
Os moleques do pavilhão 22, principalmente às segundas-feiras, antes de
dormir, contavam as aventuras do fim de semana com requintes de detalhes, uns
poucos tinham uma namorada fixa, feito o Tadeu, o resto contava de uma garota
por semana essa coisa virou uma obrigação, contar as aventuras para os amigos
era como contar as façanhas do futebol.
Indo pra Pinheiros, nos empolgamos e acabamos fazendo bagunça no Buzão,
o motorista parou na Paineira e fez menção de que ia chamar a polícia no posto
que ficava ali, como ele havia trancado as portas, pulamos pela janela e
sumimos, cada qual por um lado, esse foi o dia que eu corri mais que o
Valdevino, que era recordista dos 100 metros rasos.
Dei um balão e saí na estação de trem, quando cheguei à Chic Show já
estavam todos na fila e entramos no salão, uns 70 graus de temperatura
justificavam o apelido do salão..."Panela de fritar macaco", antes de
começar as coreografias do nosso grupo, uma cervejinha caia bem, metemos as mão
nos bolsos e vimos quantas garrafas vinham...estupidamente gelada.
Cada um com seu bolinho e cada bolinho com passos ensaiados, entrar em
rodinha alheia era crime e o infrator tomava cambau.
No nosso sagrado círculo, uma menina passou, é claro que meninas não
tomavam cambaus e, cavalheiro que sempre fui, enlacei o braço dela ao meu e a
conduzi pra longe daqueles selvagens, no meio desse caminho as luzes se
amorteceram e começou a sessão de lentas e, já que a tinha, virei-a de frente
pra mim...meus olhos jamais tinham visualizado uma beleza assim.
A pele da garota era negra e brilhava na profusão das luzes, nos olhos
rasgados e pequenos tinham traços orientais, a boca era vermelha de batom e
grossos lábios convidavam, um nariz perfeitamente pequeno, as covinhas
apareciam nas bochechas quando ela sorria, um anjo, de longe, a mais linda moça
que eu havia visto nos meus longos 14 anos, me lembro de esfregar os olhos pra
me certificar de que não se tratava de miragem.
Dancei uma, duas e como ela não fazia questão de desapartar de mim, me
deixei durante toda a playlis de lentas.
Esqueci-me dos amigos por completo, mesmo na hora dos Funk’s, ficamos
agarrados, num beijo que só acabou quando o baile se findou.
Na saída, comuniquei aos amigos que ia levar a dama pra casa.
_aonde você mora, princesa?
_Morro do Querosene.
Estava tão encantado com a beleza da moça que, resolvi ignorar a pontada
que me veio, quando ouvi o nome do bairro dela.
_Beleza, vamos conhecer um bairro novo.
Durante a viajem dos dois buzões, o beijo continuou, nem vi onde
entramos, só pensava que ia me dar bem.
Subimos um escadão, uns caras mal-encarados estavam em frente da casa
dela.
_. Quem é o playboy? Perguntaram os sujeitos.
Playboy, eu??tive vontade de brigar, mas não ia, por nada nesse mundo,
por a perder o meu troféu, ignorei.
Os pais dela não estavam em casa e, prontamente me mandou sentar no sofá
da sala, foi ao quanto e jogou um som no ambiente, instintivamente bati a mão
no bolso da calça, pra conferir, estava lá o preservativo, respirei aliviado.
Ao som da melodia, ela se sentou ao meu lado e nos acariciamos por longo
e tranquilo tempo._Ah, eu hoje vou me dar bem.
Enquanto beijava, acariciava lhe as partes íntimas e ela gemia aos meus
ouvidos, eu me sentia o cara mais feliz da face da terra.
Sábio mesmo é aquele ditado que diz que "Alegria de pobre dura
pouco".
Repentinamente aquele anjo se levanta, tira a blusa e a calça e diz:
_isso só vai funcionar de verdade, se me bater.
Eu ouvi claramente, mas perguntei, pra ela confirmar que eu havia
entendido errado, pra minha desgraça ela confirmou e, enquanto pedia uns tapas,
tirava o que restava das roupas.
Muito triste, mas resoluto, levantei-me, arrumei as calças e saí daquela
casa.
Estava com tanta raiva que, se tivesse encontrado aqueles que me
chamaram de playboy, os teria feito engolir as palavras, durante a volta pra
casa, ecoavam as palavras da Rúbia em minha mente: "Nunca tratar mal a uma
mulher" essa promessa fora feita na Casa de Infância, quando eu tinha 8
anos.
É claro que contei aos amigos, essa desventura e, é claro que virou a
piada preferida da nossa turma.
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