Quando se
reuniam, dificilmente se podia tirar proveito do conteúdo das conversas
produzidas pelos alegres internos, na grande maioria dos diálogos havia piadas
sobre os amigos, cantigas sobre a comida do irmão Simão, aventuras nos
pavilhões e bravatas sobre futebol.
E tendo, os internos um vocabulário próprio, com palavras que
só faziam sentido pra eles, qualquer coisa que tivesse duplo sentido era
recebida com um sonoro Nóóó!... E vinha depois uma enorme gargalhada, o autor
da mancada era vítima de chacotas, até que se achasse um fato diferente pra se
rir.
Quem sabe se, o seu Valdemar não tivesse sido tão agressivo
no dia da carne e então, ele tivesse evitado os meses que sofreu na mão dos
meninos do E.D. D, pois é sabido que, um apelido só pega, se o apelidado se
nega a recebê-lo.
Não que os meninos fossem galhofeiros por natureza, nesse
caminho que os conduzia até a escola, raramente se via algum deles que saísse
da calçada e tinha, por habito, cumprimentar os adultos que moravam na avenida
vizinha, pessoas como o seu Geraldo, que tinha uma horta e passava por eles com
um carrinho de mão sempre carregado de verduras, o seu Pascoal ou o seu Valter,
que era policial, a essas pessoas, os meninos saudava com entusiasmo de dar
inveja a meninos de colégios de freiras.
Mas o caso do sapateiro acabou esfriando, talvez por conta da
consideração que tinham pelo seu filho Jorge, que estudava com eles, ou talvez
tenha sido porque ele, a partir de um tempo, ele não mais respondeu aos
insultos dos meninos... um dia esfriou o caso e a vida voltou ao normal.
O caminho pela estrada velha de Cotia era longo, os meninos iam
a bandos, uma turma aqui, outra adiante e outra mais atrás e ainda que alguns
meninos nem se falassem, iam juntos. Vivendo essa aventura.
Num dia, quando o sereno mal se dissipava e já havia passado
o campinho dos predinhos, ali seguia uns terrenos desocupados com mato alto,
antes da última curva do Attiê, os meninos tiveram uma visão que mudaria a
monotonia do caminho.
Do alto da calçada, puderam ver que do lado do casebre, que
ficava numa parte mais baixa, umas folhas de bananeira se mexiam, parou,
pensaram se tratar de algum bicho e passou a fazer conjecturas, a turma da
frente voltou à turma de trás se juntou ao bando e as folhas, numa distancia de
uns vinte metros, se mexeram mais forte.
Pra espanto dos meninos, algum já se armara com pedras e
paus, um homem se levanta da moita, as calças arriadas e como estava de costa
pra pista, exibiu sua nádega muito branca pra plateia que havia se formado.
Depois do espanto e da especulação, havia menino que não
acreditava naquilo, aquilo não podia estar acontecendo, alguns se sentaram na
guia para poderem rir.
Ora, se fossemos adultos, viraríamos as caras pro outro lado
e seguiríamos nossos caminhos o caso seria brevemente esquecido... mas qual, a
coisa tomou proporções gigantescas, os que viram, contaram pros que não viram e
o assunto dominou acima de todas as matérias que foram dadas na escola, naquele
dia.
Na saída, todos que não viram ficaram sabendo da casa que se
tratava e estava vazia, pararam ali e alguém gritou:
_Ô. BUNDA.
No dia seguinte, o homem estava em casa, lá de cima os
meninos começou a gritar BUNDA, o homem abaixou-se e pegou umas pedras e as
lançou contra eles, desviando das pedras, os meninos insistiram BUNDA e
correram pra escola.
Como eram meninos de fanfarra e sabiam marchar, na saída,
passaram em frente a casa em passo de desfile e cantando em tom marcial:
_Tá gá dá gá dá BUNDA Tá gá dá gá dá BUNDA Tá gá dá gá dá
BUNDA.
Irritado, o homem se arma com um porrete e corre atrás do
bando.
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