segunda-feira, 16 de setembro de 2013

O caso dos 12 cavalos

     O caso dos 12 cavalos Tinham os internos do Educandário Dom Duarte, oriundos da Casa da Infância do Menino Jesus, o habito se reunir, independente de estarem em pavilhões (geograficamente) distantes. Era a convivência da primeira infância e a saudade das freiras, que os mantinham juntos, posto que, foi lá que começaram as amizades. Em ocasiões específicas, como domingos de visitas, quando a atenção dos administradores e funcionários estava desviada, ou nas férias, quando o efetivo de moradores se reduzia a menos da metade, que eles se encontravam e saiam pelo espaço do Educandário em aventuras. 
Então, era comum que eu, que morava no 14, que se localizava no extremo sul, encontrasse com regularidade com (por exemplo) os irmãos Lustosa, que moravam no 24 (extremo leste), por vezes essas aventuras chegavam até a caixa d’água (João XXIII) ou no Pirajuçara. Por vezes, essas andanças acabaram em tragédias, cito o caso do Alaor, que, brincando com combustível, acabou morrendo carbonizado no 19, ou o caso do Ratinho e o Xodó, ambos do 21, que jogaram BHC na caixa de água, que abastecia o colégio, ou a ocasião que invadimos a escola Luiz Elias Attiê, ainda em obra. Num dia de domingo, como estávamos com a tarde livre, eu, o Fabiano (12), o Donizete (12), o outro Donizete (19), os Paulo e Valdir Lustosa (24), o Celso (13), fomos ao pomar, que ficava atrás do Cenáculo, que era mais conhecido como lar 25, vizinho da igreja, que ficava ao lado do 18. Costumávamos colher mexericas e jabuticabas, por lá e depois tínhamos que correr, já que o vigia costumava receber os visitantes a tiros de sal, ele costumava esconder-se, enquanto recolhíamos as frutas e só aparecia quando já havíamos enchido nossas camisas pulôver, aí ele saía, gritando palavrões e atirando. 
Terror puro, correr carregando uns sete ou 8 quilos, com um maluco atirando em você, mas, ele não corria muito e sempre dava pra escapar, ainda tenho na pele essas marcas. 
Descemos pela mata que chegava à olaria e subimos em direção ao 14, no caminho que dava na estrada do 18, havia o campo e acima, o que chamávamos de bosque, esse era o limite territorial do pavilhão, do lado esquerdo uma grande extensão de terra, que havia sido a horta do japonês, mas, já tinha dado tudo que tinha dar e estava já abandonada, ali crescia um alto capim e, uns cavalos pastavam ali, era o local ideal para matar o tempo. Às vezes empinávamos pipas, mas a maioria das vezes, ficávamos brincando e montando os cavalos, foi ali que aprendemos a montar, demos até nomes pros cavalos, o meu se chamava Odilon e era malhado, era o mais calmo de todos, que não sou bobo. 
O fato é que, numa bela tarde de primavera, apareceu na estrada, um senhor bem vestido, disse ser o dono dos cavalos, muito educado, tinha um Corcel II marrom, disse que ia dar um dinheirinho, caso a gente ajudasse na remoção dos animais, na hora topamos. 
Na estrada, um segundo homem estacionou um caminhão, desses que transportam cargas vivas, com a esteira para subir na carroceria. Buscamos os animais, que se espalhavam pelo terreno e, um a um, levamos para o caminhão, não gastamos mais de meia hora. Pegamos o dinheiro e fui pro mercado Paraná, gasta-lo, eu comprei três pacotes de bolacha, um pote de Amendocrem e um desodorante de limão. 
Tá rindo do que? Eu tinha 11 anos, isso foi uma compra de responsa. Quando já anoitecia, dispersamos a turma, orgulhosos de um dia legal. Eu já dormia á muitos, quando me acordaram aos gritos: 
_Tem uma viatura da polícia, estão te chamando. Assustado e confuso, as mãos no cordão que segurava o meu pijama, fui pra área do pavilhão, uma Veraneio preta e vermelha estava estacionada lá, abriram a parte de trás e eu pude ver o Paulo e o Fabiano, mas tive a impressão que os outros amigos estavam todos amontoados lá dentro, pensei que iam me jogar lá também, mandaram que eu me sentasse no banco de madeira, bem ao lado do tanque, sentei-me. Só então, fui perceber que conhecia os policiais, sempre que eles passavam pelo milharal pediam umas espigas e eu dava, uma vez recolhemos um saco, desses de 60 litros, cheios de milho, então, eles já sabiam meu nome: 
_Nilton, Conta pra gente como foi o seu dia, todo mundo se sentou pra ouvir. Comecei a história com riqueza de detalhes, desde o apanhar das frutas, que isso eu sei fazer desde muito pequeno... tudo, do jeito que acontecera e todos prestando atenção. 
Quando terminei a narrativa todos riram, riram tão alto que os meninos, de dentro do camburão esticaram-se pra saber a boa. Respectivos pavilhões. 
Um dos policiais falou ao rádio e outro foi tirar os meninos da traseira e conduzi-los aos bancos do carro, iriam leva-lo, cada um a seus respectivos pavilhões 
Quando se despediram, ainda riam e depois disso, sempre que nos encontravam, faziam piadas de cavalos. 
Nunca soubemos quem de fato era o dono dos cavalos.
                                                                                                          

Um comentário:

  1. Ola companheiro. Achei muito legal e engraçado o fato ocorrido com os cavalos. Meu nome é Eliel eu fui do lar 19 na época do Sr. Fausto e Dna. Maria. Eu me lembro do: Catolinho, Silva, Carvalhau, Tavares, China e muitos outros internos da minha época. Eu sai de la +/- 1977 creio que no final de 1977 pois ai eu tinha 17 anos prestes a fazer 18 anos. Abração a todos os amigos.

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