Toda a minha vida, pra cada momento, tem
uma canção pra lembrar, minha memória funciona como se a música fosse à
bateria.
Estávamos de bobeira, do lado de fora do refeitório
central e cantávamos.
Havia alguns meses que a comida não era mais feito no
pavilhão 23 e o chefe era o Ivo. Nós (eu, o chumbinho, o Téquinha e o Viana)
estávamos em horário de descanso, já havíamos servido o almoço e lavado a
cozinha.
Tínhamos o habito de cantar, como se fossemos um coral, os
quatro juntos, éramos todos jogadores do infanto-juvenil (por conta disso, eu
estimo que eu estava com uns 12 anos) os outros tinham um ano a mais que eu... se
não me falha a memoria, nesse dia, era Fagner que cantávamos...Ai,Coração alado
desfolharei meus olhos nesse escuro véu.
Ainda cantando, pudemos observar que o Jordão descia a rampa
do pavilhão 15, vinha em nossa direção, com ares de quem ia nos mostrar uma
coisa surreal. Carregava no ombro direito um grande radio portátil (aquele dos
anos 80) ao aproximar-se de nós, tirou do deck uma fita cassete branca... Clube
da esquina 2, e ria, um riso desafiador que nos incomodou.
O Jordão era mais velho, tinha uns 16 anos, cantava num coral profissional e ainda fazia teatro.
Batia a fita no peito e ria.
-Vocês acham que isso é musica?
-E o que é que você tem aí? Perguntei-lhe, já constrangido.
-Milton Nascimento.
-Ah, já conhecemos Milton-disse o Téquinha - e nem é tudo isso.
O Jordão era um negro alto e magro, com sua cabeleira Black Power ele ficava bem mais alto, pôs a fita no deck, sem ainda o fechar, colocou com zelo o radio no chão e passou a bater no cabelo, como quem os arredonda.
Crianças inocentes... sentem-se e prestem atenção.
Sentamo-nos e ele fechou o compartimento da fita, em seguida apertou o botão de ligar e foi bobinando até chegar a faixa.
De repente a musica tirou-nos do chão, era como se levássemos, ao mesmo tempo, um soco no estomago.
O que era aquilo?...Que som era aquele?...Que letra agressiva. Que tipo de poesia era essa... e o Milton cantava em duas vozes???
Ele ainda tocou a musica duas vezes mais e foi embora.
Ficamos ali, por algum tempo atônitos. Desse dia em diante, o Jordão virou nosso GURÚ.
O Jordão era mais velho, tinha uns 16 anos, cantava num coral profissional e ainda fazia teatro.
Batia a fita no peito e ria.
-Vocês acham que isso é musica?
-E o que é que você tem aí? Perguntei-lhe, já constrangido.
-Milton Nascimento.
-Ah, já conhecemos Milton-disse o Téquinha - e nem é tudo isso.
O Jordão era um negro alto e magro, com sua cabeleira Black Power ele ficava bem mais alto, pôs a fita no deck, sem ainda o fechar, colocou com zelo o radio no chão e passou a bater no cabelo, como quem os arredonda.
Crianças inocentes... sentem-se e prestem atenção.
Sentamo-nos e ele fechou o compartimento da fita, em seguida apertou o botão de ligar e foi bobinando até chegar a faixa.
De repente a musica tirou-nos do chão, era como se levássemos, ao mesmo tempo, um soco no estomago.
O que era aquilo?...Que som era aquele?...Que letra agressiva. Que tipo de poesia era essa... e o Milton cantava em duas vozes???
Ele ainda tocou a musica duas vezes mais e foi embora.
Ficamos ali, por algum tempo atônitos. Desse dia em diante, o Jordão virou nosso GURÚ.
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