É possível que as maiores mudanças que o Educa sofreu, foi durante a
minha estada por lá, então vejamos:
A fanfarra foi desfeita, a colchoaria, a olaria e a cozinha central
deram seus últimos passos, o lar 11 deixou de ser um pavilhão pra se tornar um
asilo, a mata de trás da olaria e a horta do Japonês já não eram territórios de
Educandário, conforme eu crescia, meus caminhos iam diminuindo, além dos
amigos, os funcionários amigos estavam indo embora, aos poucos, o Educa foi
perdendo o brilho de outrora.
Quando me fui, ainda que morasse no mesmo bairro, me recusava a transpor
a portaria, não queria ver a casa da minha infância virar uma lembrança triste.
Esse tempo durou até os meus filhos completarem a idade escolar,
matriculei-os no grupo escolar, e vi que meus medos não tinham fundamentos, o
Educa havia melhorado, no tocante à educação, aproveitei e matriculei-os na
Ozem, onde encontrei pessoas boas, educadores na melhor acepção da palavra.
Meus meninos, feito eu, passaram a ter o Educa, nas melhores lembranças
da infância.
Sempre que eu estava de folga, fazia questão de levá-los ao prédio da
Ozem, a tarde voltava pra buscá-los.
Num belo dia, cheguei muito mais cedo e não queria ficar sentado na
escada que dava caminho da cozinha para o Ozem, voltei pra perto do grupo
escolar e me sentei na guia, de frente para o bambuzal, onde, em dias de aula,
eu me sentava com os meus amigos, na parte de fora da guia precipita uma leve
descida, que terminava no lago... esse lago não existe mais.
Sentado ali, voltei mentalmente para aquele tempo, que ali, existia um
lago e, era um lago sem nome, dezena de árvores o circundava e isso dava uma
sombra permanente, em horário de recreio, alguns casais corriam pra lá, debaixo
da imponente sombra, se acariciavam e trocavam palavras de amor, mas logo vinha
o padre Paulo ou o irmão Lacídes pra expulsá-los de lá.
Parecia uma água parada, as pequenas frutinhas e os galhos podres que
caíam, davam a impressão de ausência de vida, nunca vi alguém pescando por ali,
achava mesmo que naquela água rasa não tinha peixes.
Por ser facilmente avistado da casa do Domingão, ninguém se arriscava há
ficar muito tempo por ali, quase ninguém parava, era só passagem.
Não tinha nome e, é provável que ninguém tenha feito uma foto dele,
porém, todo mundo ha de se lembrar de quando soldados do COI atravessaram de
moto, numa corda esticada nas arvores.
E, pra meu azar, essa foi uma mudança que eu tive que presenciar.
Em 1982, reinava o clima de liberdade no Educa, os carrascos já haviam
saído e os novos ares prometiam mudanças, marcamos um contra e misturados com
os caras de 13, fomos enfrentar a rapa, ao passar pelo caminho da piscina,
percebemos que o seu Paulo vinha com o trator na estradinha do lago, o Paulo
tratorista era mais uma daquelas pessoas que ficaram na memória do menino que
eu fui, mancava da perna direita e tinha um humor de cão, perguntamos o que ele
ia fazer, ele disse que cavaria uma valeta e a água escorreria pra contenção do
campo, depois traria terra e taparia o buraco, tudo rapidinho.
Os meninos disseram que iam ficar pra ver o serviço, eu disse que não ia
ver, aquilo iria ferir a minha memória, deixar de jogar bola pra ver um buraco
sendo cavado?Sartei de banda.
Desci pro campo e me preparei pro jogo e dava pra ver o seu Paulo
cavando a valeta, quando ele terminou a valeta, uma quantidade enorme da água
inundou a contenção, aquela onde escoa a água da bica, e gradativamente foi se
esvaindo.
_Pronto, já era o lago. Disse eu.
Nesse mesmo momento, o Adaílton do 20 gritou:
_Peixe, peixe, muito peixe.
Corremos e subimos o barranco, o lago estava seco, uma enorme poça de
lama e os peixes se debatendo, dezenas de centenas de peixes, todos enormes.
Em desespero o seu Paulo gritou pra que alguém corresse à cozinha e
chamasse a dona Mercedes.
Enormes panelas foram levadas para a cozinha central, deve ter ficado
uma delicia, eu digo isso porque fiquei uns 3 dias sem comer na cozinha
central, eu e a minha turma comemos peixe até de óculos.
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