Tenho vários vídeos no Youtube, que tem o EDD, como tema, pras pessoas lembrarem de um lugar que foi importante nas vidas delas, vira e mexe, alguém posta um comentário, pessoas que dizem que foram felizes e que, nunca esqueceram das coisas de sua infância, adolescência e juventude, isso faz bem pra alma.Mas, por lá, já apareceram comentários de alguns ex-internos que detonaram o colégio, dizem que sofreram muito, chamaram-no de inferno.Um dos depoentes o compararam ao Vietnam, que fugiu, pois as ruas eram melhores que lá.
Eu não sou defensor do Educandário, longe disso, não sou hipócrita, pra dizer, que não havia violência, não tinha laristas analfabetos e armados, não havia a tal da lei do mais forte...não havia coisa pior no mundo do que ser chamado de "novão".Tive inúmeras chances de fugir, de fato, era a coisa mais fácil do mundo, pra sair do colégio não se fazia necessário ser genial, corajoso mesmo, era ficar e enfrentar, no meu caso, não era coragem que me mantinha em casa, eu não tinha pra onde ir mesmo.
Alguns daqueles meninos eu conhecia desde os 4 anos de idade, se por um lado, eu tinha perdido a minha família, por outro, eu tinha ganhado muitos irmãos, portanto eu nunca reclamei de nada, na verdade eu nunca tive o dom pra vítima, se alguém me fez mal, recebeu em dobro...metade do que eu sei hoje, eu aprendi no EDD, a outra metade foi o mundão e quem me deu armas pro mundão foi o EDD.
Numa tarde, enquanto eu, o Viana, o Spock e o Tequinha, bolávamos um plano pra pegar uns caras mais velhos numa armadilha, filosofamos sobre isso tudo.. porque os mais velhos tem que judiar dos mais novos, e foi o Viana, quem falou:
_Isso é tradição, daqui a pouco nós seremos os velhos e vamos judiar dos novos é assim que o mundo funciona.
Anos mais tarde, nós eramos os mais velhos, alguma coisa deu errado naquele papo de tradição, eu nunca bati em pivete nenhum, nem vi nenhum dos caras do meu tempo fazê-lo.
No fim do anos de 1981, eu já tinha 15 anos, trabalhava na Procuradoria Geral do Estado, o natal estava próximo, nessa época o colégio ficava quase vazio, todos os menores iam pra suas casas, só ficavam os sem família mesmo, estava certo que eu, o Viana e o Japonês passaríamos a ceia de natal no Grupo Sergio, regados a muita pizza e cerveja, tínhamos juntado dinheiro pra isso.Conversávamos no lado de fora do pavilhão 22, enquanto isso o Japonês aparava nossos cabelos, uns meninos passaram na estrada, corriam atrás de um pipa e faziam muito barulho, olhamos os meninos e rimos.
O Viana nos lembrou, de como era triste pra nós, naquela época do ano, ficamos tristes, como o Viana não vinha da Casa de Infância, contei pra ele do que acontecia lá, em épocas de natal:
Haviam uns jovens, que a invés ficar em casa, passavam o dia inteiro com os meninos sem família, brincavam faziam jogos, depois um deles se vestia de Papai Noel e dava os presentes de natal.
Enquanto eu contava essa historia, que o Japonês já conhecia, a ideia nasceu na cabeça dos 3, no dia seguinte, descobrimos que no pavilhão 13 tinha 12 meninos sem família, prometemos pro larista Rosembérg, que ele podia ir ver a família no Rio de Janeiro, nós não íamos deixar o pavilhão pegar fogo.
A roupa de Papai Noel ficou bem no Japonês, já que ele era o único branco do trio.
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