terça-feira, 30 de setembro de 2014

O destino

  Conheci a Angela em 1982...
  Não me lembro a data exata, só sei que era aniversário do Cesar, era férias escolares e, pela manhã, eu tinha comprado uns LPs de Black músic...uns The Floaters, Commodores, Bernard Wright e Jimmy Bo Horne...umas coisinhas que combinavam com o meu estilo.
  E estava muito metido mesmo, me convidaram prum baile no Luis Elias Attiê, é claro que fomos, eu o Viana e o Dooley, 3 caras livres de black levantados à custa de laquê, sapatos de 2 cores e pizzas nas barras das calças...SHOW.
  Quando pusemos a cara na sala, onde se dava o baile demos meia volta, o passo foi quase coreografado, não dava pra acreditar que o som que saia da sala era Patrick Dimon... puts, aquilo foi como uma ducha de agua fria, eu vinha com as bolachas debaixo do braço falei:
  _Bóra tomar conta do som.
  Voltamos, chegamos e ordenamos que o guri que passava o som descesse o mais rápido possível, aquilo era serviço de homem, meti a mão na agulha e tirei aquele som mela-cueca, pra principiar a matança, peguei um disco chamado ...And now Funk, nem escolhi a faixa, assim que a música inundou o ambiente os meninos gritaram, o guri que fora demitido foi o primeiro que gritou, pulou pro meio da pista e todos o seguiram, meus dois amigos mandaram os caras que cobravam o ingresso na porta ir passear, cobraram uns ingressos e depois liberaram a entrada.
  Cesar, nosso amigo dos bailes da Chic Show, apareceu e disse que estava dando um baile mais tarde, pra comemorar o seu aniversário, os caras do Educandário Dom Duarte, estavam convidados.
  Depois de encerrar no Attiê, passei no Educa, pra trocar de roupa e arrumar o black, descemos pra Osvaldo Libarino, que na época se chamava Antonio Luis Vieira, onde morava o Cesar, o Biá e o Betão.
  Quando chegamos na casa do Cesar, ele me apresentou a irmã Rosangela, que estava acompanhada de uma amiga, cumprimentei a Rosangela, olhando pra amiga, quando peguei na mão da amiga, segurei com toda a calma do mundo, os 3 beijos foram demorados, senti que ela enrúbreceu, as pessoas à minha volta falavam, eu não ouvia nada, meus olhos procuravam os dela, que fugiam.
  O baile foi na sala, o Cesar controlava o som do quarto dele, reparei que ele tinha a coleção de discos parecida com a minha.
  _Ficou afim da mina, né?!?Xiii, essa é difícil.
  Peguei o disco do Jimmy, mostrei a faixa e pedi que ele jogasse essa, fui pra sala.
  O DJ esperou o instante de acabar o Roque samba, olhei pra moça, quando a música começou, o Djalminha ameaçou seguir na direção da mina, pus a mão no ombro dele, não precisei dizer nada, ele saiu do caminho, dei uns passos e estiquei-lhe a mão direita, ela veio, em passos tímidos, meio com medo, pus uma mão na cintura e a outra no ombro, ao som da música a conduzi.
  E assim foi, esse seleção de lentas durou muito tempo, uma música atras da outra e eu não soltava.
  _E aí...vamos dar um rolê ?!?
  _Não, nem te conheço.
  _Olha pra todo mundo, eu sou o cara mais bonito que você já viu na vida.
  _Claro que não, você é muito metido.
  _Ó eu vou lutar, mas você podia economizar muito tempo de nossas vidas, já que, é o destino.
  _Que destino???Tá maluco???
  _Presta atenção...Nossa primeira filha vai se chamar Stephanie, os outros dois serão a mistura do meu escritor favorito.
  _ Quem é esse escritor???
  _Victor Hugo.
  _Você é maluco.
  3 meses depois, ela aceitou, num baile da Santa Barbara.
  O que é que deu???puts, ela acabou de acordar, me xingou, por estar à essa hora na internet.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Davi e Golias


Tudo o que eu sei de esporte e superação, aprendi no E.D.D, pra falar a verdade mesmo, quando fui pra rua, faltava muito pouco pra aprender.
  No Educa, me acostumei a ver o Davi derrubar o Golias, sempre o time menor que vence o maior, ou o corredor descalço superar o adversário muito bem aparelhado, passei a infância vendo e vivendo essa historia.
  Pra não perder a oportunidade de uma boa lembrança, vai a passagem nossa, num jogo no estádio do Ibirapuera:
  Mais uma vez nos aterrorizamos por ver, do outro lado do campo, os atletas do Cristo-Rei, primeiro pensamos que confundiram as categorias, os caras eram maiores, muito maiores.
  O professor Claudiney dirigiu-se a nós, na maior calma do mundo.
  _Não esquenta não...os caras são grandes, mas a bola é redonda e as traves tem o mesmo tamanho,,,pros dois lados._saiu rindo, como se fosse um mestre chinês.
  Como se aquilo fizesse algum sentido.
  Ainda no primeiro tempo, bati uma falta, joguei a bola na gaveta(nisso eu era bom), o professor, que nesse momento saboreava um sanduba, gritou com a boca cheia:
  _tá vendo aí, ele é grande mas não voa!
  Incentivado por isso, ainda que, não fizesse o menor sentido, fomos pra cima e vencemos o jogo
pelo placar de 7 x 0, ao final do jogo, o goleiro quis conhecer o autor do gol de falta, me cumprimentou e disse:
_ Eu sabia que quando vocês começassem a jogar bola, seríamos massacrados.
  Fiz com os ombros que não tinha entendido e queria saber o porque da afirmação, na maior tranquilidade ele falou:
  _Vocês são do Dom Duarte, vocês são assim.
  E saiu, nesse momento, o resto do time do Cristo-Rei cercava o Pelézinho, o neguinho tinha feito uma partida perfeita, assinou 4 gols, deu duas assistências e sofreu a falta que eu converti.
  Cresci à sombra disso, ou essas coisas me fizeram crescer, sai do colégio e me tornei adulto, mas fiquei por perto, sempre que podia entrava e matava saudades da minha casa.
  Por ser vizinho do colégio, meus filhos passaram a frequentar as aulas no grupo escolar e na Ozem.
  Nessa época eu já havia montado a minha agremiação, metade dos alunos do ginásio jogavam nela, num belo dia, por não ter um professor de Educação Física, a diretora me convidou para montar um time e disputar os jogos escolares.
  Não hesitei, aceitei na mesma hora e com o entusiasmo de quem vai reviver um sonho.
  Mas os tempos eram outros, pude ver nos olhos dos internos, assim que se apresentaram, esses meninos eram falastrões, indisciplinados, mimados e arrogantes.
  Meu sonho se quebrou, com a prancheta na mão, olhei para o grupo, deu vontade de dizer à diretora que havia me arrependido, se não fosse pelos jogadores do Dínamo, que estavam ali também, eu teria feito, pensei que um jogo no comando desse time pudesse completar um ciclo, simbolicamente, eu devia...a mim e aos meus amigos de infância.
  Rezando pra a tortura acabar logo, me apresentei no dia do jogo, enquanto escutava as abobrinhas dos meus jogadores no aquecimento, o ônibus do colégio adversário chegou, dele desceram uns guris escurinhos e tímidos, todos pequenos pra idade, olhei pro céu, que ameaçava escurecer naquele momento e entendi a ironia do destino...Eu não só havia crescido e virado adulto, havia me tornado o Golias, Aléx o meu fiel escudeiro, viu que eu tinha um sorriso de incredulidade no rosto e deu a estocada final, disse que aqueles guris eram alunos do Solano Lopes.Eu sempre fui admirador do trabalho de base da escola do Jd Boa Vista, dei de ombros e chamei meu time, passei as instruções, não ia tombar sem luta.
  Aqueles meninos pequenos deitaram e rolaram em cima do meu time, eu comandava os gigantes e torcia pro Davi, no fim do jogo entreguei a prancheta pra diretora, diante da pergunta se eu ia continuar no comando, fiz um silencio e não mais voltei.
  Como eu disse, não sou santo, me vinguei do Solano Lopes, meses depois, comandando o colégio Palmares.