sábado, 29 de outubro de 2016

O sexteto infernal


Cheguei ao Educa em 17 de Fevereiro de 1977, era uma terça feira, já fui descendo da Kombi e pegando na padiola, nas marmitas veio o almoço ao pavilhão...fígado com batata.
No tempo que faltava pro fim de semana, conheci o pino e a enxada, tinha que viver esse mundo novo e aprender com os que já moravam por ali.
No primeiro sábado, depois da enxada, tive um dia de folga e sentei-me debaixo da araucária, que ficava no bosque, alguns meninos desciam o barranco, sentados na folha da palmeira, me convidaram pra brincadeira e eu me recusei, queria ficar sozinho, queria assimilar esse mundo novo, não estava acostumado com tanto espaço.
Nem bem havia fechado os olhos e ouvi os gritos que vinham da estrada que levava à olaria.
_Ei novão, ei novão.
Eram o Edson Martins, o Viana, o Tequinha, o Ovinho e o Spoc, a turma do quarto dos médios.
_Bóra, vamos ali catar umas mixiricas...
Sem saber onde ficava esse lugar que eles iam buscar frutas, fui com eles, descemos a estrada e ladeamos a horta do japonês, no fim dela dobramos à direita, era uma turma estranha aquela.
O Téquinha, apesar de ter a nossa idade, era um preto alto e brincalhão, o Viana era um preto baixo, desconfiava de tudo e todos, o Edson era daqueles brancos queimados de sol, que quando nervoso gaguejava, o Adilson(Ovinho) era branco, deles todos, o mais simples e o Valter(Spoc) era de cor indefinida, um índio com traços de negros, um mulato com cara de branco.
Enquanto seguíamos a estradinha que ladeava o lago, o Ovinho perguntou pros outros se podia contar, pra mim, alguma coisa.Todos acenaram negativamente e, me passou a sensação de que estavam me aprontando alguma e, já havíamos entrado na mata fechada, resolvi ficar esperto no movimento deles.
Vencida a mata, chegamos ao Bráulio da Silva...um imenso pomar, um paraíso na terra, havia jabuticaba, ameixa amarela, cana e mexericas.
Pulamos a cerca e partimos pra pilha, nos espalhamos e, eu e o Ovinho fomos direto nos pés de mexericas, eu derrubava e ele recolhia.
Pronto, já havíamos enchido as camisas e ouvimos os latidos, dois pastores alemães, os outros quatro já seguiam em carreira, quando o Adilson gritou:
_Era isso, que eu ia dizer.
Com a minha camisa cheia às costas, abri a corrida, o Adilson ficou pra trás e gritava, os outros riam.
Do outro lado da cerca, já livres dos cachorros paramos pra descansar e rir da bermuda rasgada do Ovinho, na volta pra casa caminhamos felizes, essa turma participaria de muitas aventuras mais e, esse foi o ponto de partida.