domingo, 23 de março de 2014

A fúria

  Eu não sei qual foi a hora exata, que a diversão virou risco de vida...numa hora estávamos curtindo os bailes por diversão, na outra, passamos a ser alvos móveis, subitamente a equipe de dança virou gangue.
  Nessa época, eu estudava no Santa Inês, quase todos os amigos tinham abandonado a escola, por esse tempo, passaram a consumir a maconha, acho que eu estava muito ocupado e, acabei perdendo esse capitulo, repentinamente eu passei a ser o único careta da turma.
  Nunca fui de julgar, continuei a considera-los, meus amigos e continuei os rolês, com uma diferença, agora passou a haver a pausa para o "fogo na bomba", no começo, tinha o constrangimento de ser traidor, mas, quando os via, sob o efeito da erva, disse:
  _Pra ficar igual a vocês ?? Não, muito obrigado.
  Pra minha surpresa, todos levaram a coisa na esportiva, mas sempre aparecia alguêm de fora e oferecia uns péguinhas, eu sempre me saía com essa:
  _Xi, acabei de fumar um, tô à pampa_a frase sempre vinha acompanhada duma tosse simulada.
  Na verdade, pouca coisa mudou, continuamos a ir em todos os bailes de Sampa, só que agora, tinha a pausa pra bolar o baseado.Todos os domingos, íamos pro mesmo lugar, o Asa Branca de Pinheiros, lá, acontecia a matinê da Chic Show.
  No pavilhão 22, os preparativos começavam cedo, escolher as roupas, lustrar os sapatos, fazer vinco nas calças e ajeitar o black, essa última ocupação era a mais demorada, gastava umas 3 horas, pra deixar o cabelo perfeito, tinha gente que passava cerveja no cabelo, afim de deixa-los durinho.
  Como eu sempre estava sem dinheiro, tinha a minha tesoura e um laquê, prestava meus serviços e cobrava pouco, só o que desse pra pagar a entrada e a condução, já que o meu cabelo não necessitava de mui
to cuidado, eu só o levantava e arredondava e era de bom tom, levar uns trocados a mais, sempre tinha um "mano", que ia pra porta do salão sem nenhum dinheiro, ficava do lado da fila, arrecadando o suficiente.
  Nessa época, havia uma fúria dentro de mim e, em todos os lugares que chegávamos, havia alguém que se achava no direito de cercear nosso direito de ir e vir...isso só se resolvia "na mão" e, se fazia necessário usar os punhos, eu estava sempre na linha de frente, dominava a arte do boxe.
  Uma noite, perto da entrada do Guilherme George, a turma parou pra fumar um, estávamos nuns 50 caras, a bomba foi acesa e passou de mão em mão, um dos amigos novos a estendeu em minha direção, eu já ia dizer a minha frase, quando o Viana, muito alterado gritou:
  _Pára com essa palhaçada de oferecer droga pra esse cara, se, de cara limpa ele já faz as desgraças que faz...calcula, se ele estiver bem louco.
  Houve um breve silencio, a mão que me oferecera o cigarro foi recolhida...nunca mais, ninguém me ofereceu um baseadinho sequer.
  Quanto a fúria ???ela morreu...no exato instante que a Angela disse que estava grávida.

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