terça-feira, 17 de setembro de 2013

O lendário time do 14


Tinha muita história, anteriores à minha chegada no lar 14, já era consagrado, todo mundo sabia que esse era o rival a ser batido.
Na distribuição dos menores nos pavilhões havia uma certa discriminação e, por consequência disso os lares 14 e 12 eram os pavilhões que mais tinham negros no EDD, somando ao fato, tinha um larista analfabeto, que andava com um 38 na cinta e, tinha tendência à violência.A maior área territorial tambem pertencia ao 14, então o que mais se fazia no cotidiano, era capinar, Quilômetros e mais Quilômetros de plantação.O que dava boa renda para o "seu Odilon" um sujeitinho de maus bofes que manquitolava da perna esquerda.Posteriormente, essa atividade foi proibida no colégio, bem como o pino e a olaria.Uma comissão de direitos humanos denunciou-as como trabalho escravo.Longe de entrar no mérito da questão, só citei o fato, pra dizer que, enquanto os outros internos treinavam muito, nós (do 14) trabalhávamos e muito.No ano de 1979 tive o privilégio de ver o time sagrar-se campeão nas 3 categorias(pequenos,médios e grandes) e, sem contestações, eu jogava nos pequenos, jogava???não, propriamente.Eu era grande pra minha idade, me constrangia jogar com os pequenos e como na panelinha dos médios não tinha vaga, eu ficava sem jogar.Mas como eu era fã do time acompanhei os 3, na verdade já estava nascendo o futuro professor, nessa condição, pude testemunhar quando, jogando com o 15,( que era o segundo melhor entre os grandes) o Roda deixou o time todo no chão, prendeu a bola na linha e virou-se, fez sinal que não estava nem aí, tocou a bola de calcanhar e saiu, sem comemorar, foi beber água na bica.Se nos grandes, o Roda equivalia a metade do time(sem ele o time era uniforme), nos médios prevalecia o conjunto, os irmãos Lucena (Helio e João) discutiam entre si e, comandavam o time, tinha o Spók no gol, o Tadeu, o Téquinha, o Feliz, os irmãos Edson e Chumbinho, o Luis bandido e o Neguinho do 14 (que era do 20), esse time defendia bem e atacava em bloco.Já os pequenos tinha o Adilson (Ovinho), que fez mais gol nesse ano, que os caras do profissional.
Assim, aqueles caras que vestiam a camisa preta e vermelha do 14, perpetuavam a tradição do 14, o futebol.
Numa surpreendente reorganização, a administração do EDD, na virada do ano, mudou tudo.Por conta dessa remodelação(que teve como pivô, denuncias de maus tratos), alguns funcionários foram dispensados e, muitos internos foram desinternados, alguns foram pras suas famílias, outros(a grande maioria) foi remanejada para as FEBEM da capital e do interior.
Metade do lar 14 foi-se, é certo que o fato aconteceu em todos os pavilhões, mas o futebol unia os internos e...a união é um perigo eminente, e aquele grupo já estava se tornando uma ameaça, o 14, nesse sentido, era ameaça.Como eu disse, muitos funcionários foram desligados, mas estranhamente, o mais brutal de todos, ficou.
Com o Odilon ainda no lar, daquele time extraordinário, sobraram o Tadeu, que era craque, o Silvio Mamede, o Zé Jose Antonio, e o Luis Carlos da Silva(Feliz), era a minha chance de honrar a camisa do 14.Primeiramente tínhamos que restituir a tradição, virei técnico dos pequenos, já que todos eram novatos e, sequer se conheciam.Recrutamos o Marcos(Pato Roco), que era novato tambem, para nosso goleiro, ainda tinha o meu irmão, que apesar da idade inferior era um zagueiro de mão cheia, havia tambem o Luis Sergio, que tambem viera da Casa da Infancia.E, se formou assim, o melhor time que eu joguei na minha vida

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