terça-feira, 25 de agosto de 2015

No caminho da escola.



Quando o grupo escolar foi fechado e os internos foram transferidos pro Attiê, só foi trocado o local da baderna, pra chegar à escola se fazia necessária uma boa caminhada.
A princípio, todos seguiam a estrada da horta, beirando o lago do 24, se seguia uma estrada de barro que tinha do seu lado esquerdo a horta do japonês e do direito uma plantação de mamonas, paralela à Avenida Eiras Garcia, ao contrário da avenida, essa estrada tinha uma leve inclinação e os internos chegavam pelo fundo da escola.
O colégio tinha uma grande área geográfica, seus pavilhões eram distribuídos de forma aleatória, em alguns caso, a distancia de um pavilhão a outro não se fazia em menos de 40 minutos de caminhada.
E então, meninos do 20 ficavam parados no grande Carvalho da encruzilhada, pra esperar a turma do 11, nesse meio tempo, outras turmas se juntavam ao bando e partiam pela estrada, na hora da volta, o processo se repetia, ficavam esperando o grupo crescer do lado de fora da escola e iam de volta pros pavilhões, geralmente fazendo guerra de mamonas ou cantando, na encruzilhada do Carvalho, cada turma seguia o seu caminho.
A certa altura desse tempo, a Eiras Garcia foi pavimentada e a ordem nova era que todos tinham que ir pra escola nesse novo percurso, agora o caminho tinha que ser pela portaria do seu Felipe e seguido pela calçada que beirava a avenida, e a espera agora se dava na frente da portaria, quando a turma estava grande, partiam todos pra escola nova.
Mas, todos sabem que muito menino junto sempre dá o que não presta.
O seu Valdemar era sapateiro e morava quase vizinho ao E.D. D, alguns meninos associaram os sapatos à carne e perguntou pro homem se ele vendia carne, o homem era bruto e respondeu à altura:
_Carne é a PQP, seu filho Da...
A reação dos meninos foi imediata, muito riso e em seguida veio à galhofa, daquele momento em diante, os meninos passavam pela sapataria e gritavam “Carne" até o homem aparecer, quando ele aparecia, gritavam em couro e corriam pro E.D.D.
Já cansado de ser atormentado pelos guris, um dia armou-se de uma garrucha e ficou esperando, quando os meninos passaram, brandiu a arma no ar e mandou que eles gritassem, Tinham-se coragem.
Ouve um silêncio, os meninos enfim tinha perdido, o seu Valdemar falou poucas e boas, os meninos ouviram em silêncio, silêncio coagido.
Certo da vitória, o seu Valdemar entrou na venda, depôs a arma embaixo do balcão, a turma estava lá, parada com o sol em seus rosto.
Com a sensação de quem tinha vencido uma guerra, o homem jogou os cotovelos no balcão e olhou pro céu.
Ao vê-lo desarmado e com ar de paisagem, riram, gritaram "CARNE" e correram pra portaria.

O seu Valdemar era pai da minha grande amiga Verônica.





















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