quinta-feira, 12 de novembro de 2015

A vida segue seu rumo...


Toda vida e todo destino segue o rumo que tem que seguir, alegrias e sofrimentos vem, conforme o merecimento de cada um.
Minha mãe, alguns anos atrás, pediu desculpas pelas coisas que aconteceram e me levaram a viver uma vida de órfão, sorri pra ela e disse:
_Não tem o que perdoar, jamais abriria mão da vida intensa, das aventuras, dos aprendizados e dos amigos que conquistei.
E não é média não, se eu vivesse uma vida comum, lá no Bexiga, tenho certeza que não teria metade das coisas que tenho pra contar, aprendi a olhar o comportamento humano e a ser tolerante com a vida, medir as consequências dos meus atos e a respeitar a opinião alheia.
Relegado ao meu papel secundário e sempre na posição de observador, vi a injustiça aflorar, vi milagres e lições que, só quem presta atenção vê e nada disso eu poderia ver, senão na pele do interno.
Sempre poupado pela sorte que, me virava os olhos nas horas do perigo pude ver que na vida não cabe espaço para “mocinhos e bandidos”, cada qual dá o seu melhor e a vida se desenrola, independente se alguém a observa.
Minha vida no Educa se desenrola na passagem da infância para a adolescência e, convenhamos... esse é o tempo melhor da vida.
O Ovinho do 14, tinha o nome de Adilson, o apelido era devido ao formato da cabeça, em época de corte de cabelo obrigatório, o tampo da cabeça dele lembrava um ovo deitado.
Era daqueles guris hiperativos, vindos da FEBEM muito pequeno, tão pequeno que, nem fazia a mínima ideia de sua família, como todos nós tínhamos problemas nesse departamento, não costumávamos falar desse assunto, a melhor terapia era bater uma bolinha e esperar as coisas se ajeitarem.
É claro que isso era uma fuga do assunto, geralmente funcionava bem, mas em domingos de visita essa condição ficava insuportável e, depois do almoço, sumíamos do Educa.
Na Rua Santa Barbara, o Ovinho tinha uma namorada e fugindo do fusquinha do irmão Domingos, íamos pra lá. Pra não ficar segurando vela, aproveitava pra visitar os amigos da escola e o Edson Pirata (ex-interno do 17) que já tinha mulher e duas filhas, quase de noite, voltávamos pro Educa.
Ambos tínhamos 11 anos idade certa pro time dos pequenos, não me sentia pequeno e, não tendo vaga pra mim no time dos médios, me recusei a disputar o campeonato de 1978, torci pro meu pavilhão e ensinei o Ovinho a se posicionar como centro avante na área, ele terminou o campeonato com 47 gols, não parece muito, mas, em 12 jogos disputados é muita coisa.
Assim crescem as crianças, alheias as condições e circunstancia, o importante é se divertir. Se o seu mundo é limitado, sua capacidade de ser feliz não conhece limitações.
Num belo dia, quando assávamos milho verde na brasa, bem perto do milharal, apareceu no lar 14 um senhor dizendo ser o pai do Ovinho, digo Adilson, foi um susto.
O homem contou uma historia com passagens complicadas e circunstancia triste, não que tenhamos entendido metade de tudo aquilo, mas ficamos felizes pelo amigo e foi-se embora o amigo Adilson.
Fui algumas vezes visitar a sua família, que possuía residência na Consolação e escritório na Paulista e podia se perceber que o Adilson se sentia um peixe fora d’água, tinha saudades de ser o Ovinho.
Todo domingo de visita, saía do luxo de sua vida nova e visitava os irmãos que a vida lhe dera.

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