sexta-feira, 6 de maio de 2016

Aprendendo a viver

Vira e mexe, aparece alguém que posta, em redes sociais, alguém com uma vara nas mãos e diz que tem orgulho de ter sido criado assim.
Bom, todo mundo tem a sua opinião e, era mesmo regra, esse tipo de educação naqueles anos, raramente se via um adulto tratar uma criança, sem o auxilio de uma boa surra.
Com o tempo, a nossa geração aprendeu que a violência não produz o respeito e sim o medo.
E, ainda que eu respeite os de opinião oposta, me orgulho de ter criado os meus filhos, sem usar da violência.
Quando a dona Dulce apareceu no 14, acostumados que estávamos com a falta de carinho, estranhamos a moça. O humanismo acabara de nos aparecer e, depois disso, não toleraríamos mais a violência, a administração resolveu não mandar um novo casal de laristas pra lá e ficamos um longo período sem chefe.
Em 1979, num passe de mágica, o casal Claudio e Dulce transformou o pavilhão 14 numa família, não havia mais a figura do tuba, não havia grandes ou pequenos, só irmãos.
Montamos nosso time e fomos disputar o campeonato interno, defender a hegemonia que os que nos antecederam nos deixaram, já disse que não fomos campeões, o caneco foi levantado pelo 13, no entanto, ganhamos uma lição e, creio que todos os atletas do nosso pavilhão vão levar pro resto de suas vidas, aprendemos a perder.
Os caras do 13 não estavam na nossa chave, em todos os nossos jogos, eles ficavam assistindo do barranco do bambuzal, um a um, todos os adversários caíram aos nossos pés, com o passar dos jogos fomos assumindo um ar de favoritos e a vaidade te cega, a ponto de te fazer julgar perfeito.
Não era perfeito o nosso time, a tática era boa e éramos um grupo de amigos, mas o defeito estava no gol.
A maior parte do time tinha 13 anos, eu tinha 12, o goleiro Marcos e o meu irmão Nilson tinham 10 anos, subimos os dois de categoria, claro que um guri com 10 anos nunca vai ultrapassar a altura de um metro e meio, as traves do campão do Educa são oficiais no cumprimento e na largura, portanto, dois metros e meio de altura.
Foi por conta disso, que optamos por jogar com cinco volantes, com tanta gente no meio de campo, jamais alguém acertaria um chute no gol, tirando a altura, o Marcos (Pato Rouco) era perfeito e quem batia os tiros de metas era eu.
No dia da final, entramos de salto alto, no começo do jogo o Dalcides ficou desmarcado e deu uma castanhada do meio de campo, bola alta, o Marcos nem viu, gol.
Foi o time todo pra defesa e tome bola pro mato, corremos desorganizados e com a vaidade ferida, fomos com tudo pra cima, quando dividiam o lance, eles caiam e sumulavam uma contusão e demoravam no chão, o tempo corria e o desespero aumentava.
Havia uma coisa que havíamos combinado antes de começar o campeonato, se por ventura, alguém ganhasse de nós, começaríamos uma briga, subiríamos o gás de todo mundo e a partida seria encerrada.
Bom, começar a briga era a minha função e o time todo já me olhava a cobrar o combinado.
No primeiro lance que se seguiu, fiz uma alavanca e o Cidão voou, fiquei preparado pra o revide, assim que ele levantasse e reclamasse do lance a briga começaria.
O Cidão não levantou, ficou ali imóvel, com o rosto na grama, fui até ele e ele piscava muito pela falta dos óculos.
Lembrei-me do Grupo Escolar e do tempo que caçávamos rãs no lago da olaria, definitivamente, aquele guri não era meu inimigo, estendi a mão e ajudei-o a levantar.
Quando o Luis Paulo apitou o termino do jogo, demos as mãos pros campeões, troféus e medalhas e seguimos juntos pro pavilhão, não falamos de culpados e nem de derrota, além do troféu de vice, o Marcos ganhou o de goleiro menos vazado e o Tadeu o carregava nos ombros.
Quando passamos do teatro e iniciamos a subida da jaqueira, a dona Dulce vinha descendo, alguém foi avisá-la da derrota e ela vinha pra nos consolar, na verdade, o único que chorava era o marido dela.

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