terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Aos amigos do pavilhão 14.


Quando, na Casa de Infância do Menino Jesus, se completava dez anos, ia-se para quarta série. Os meninos que tinham família entravam no último ano de voltar para casa e, sentiriam saudades do orfanato.
Aos órfãos, cabia um ano de expectativa, o último ano dos carinhos das freiras, sair do orfanato, por si só, já era uma tristeza, no entanto, o Educandário Dom Duarte era um caminho inevitável e, se podia prever uma tempestade futura.
O ano de 1976, cursei a quarta série e o São José era o último pátio, último estágio na minha jornada de sete anos, eu tinha vinte e nove amigos e achava que jamais teria amigos tão queridos assim.
Alguns ex-internos vinham, aos domingos de visitas, com novidades sobre a futura casa e pintavam um quadro sombrio, saber que no fevereiro próximo eu desembarcaria no educa me apreendia, em cada comemoração ou festa que eu participava, sabia que seria a última, então eu já vivia no Educandário, um ano antes de chegar lá.
Cheguei com o Hélio, os irmãos Adalberto e Gilberto, o Luís Sérgio e o meu irmão, o Sebastião chegou um mês depois.
O lar 14 era comandado por um casal de monstros e, não havia nada a ser aprendido com esses, briguei e fiquei de castigo no primeiro dia, o desafeto acabou por ser o meu melhor amigo e, mais tarde nos chamamos de irmãos.
O primeiro dormitório era dos pequenos, todos que chegaram comigo foram para lá, à despeito da minha idade, eu tinha tamanho de médio, havia uma vaga no dormitório dos médios, o Sérgio e a dona Ana, ficaram na dúvida se eu devia ficar no dormitório dos médios e, eu disse:
_. Eu estou no ginásio.
Esse era o argumento que faltava, ganhei a terceira cama, à esquerda de quem entra, meu armário ficava do lado direito, guardei minhas roupas, todas elas já estavam com o número 152 carimbado, a minha centena preferida até hoje.
Me lembro de todos os quinze ocupantes, pela ordem, do dormitório dos médios, mas serei aleatório:
O Feliz se chamava Luís Carlos da Silva, os dentes projetados para fora, passava a impressão de um sorriso eterno, o Viana era o Maninho Pequeno, o Floriano era o Maninho Grande, o Valter tinha o apelido de Spock e ele gostava disso, lembrava o imediato do capitão Kirk, o albino Oscar era chamado de Bandido, assim como o Luiz Carlos Dias, os irmãos Lucena(João e Hélio) passavam a impressão de serem opostos, brigavam o tempo todo e, assim mesmo, quem brigasse com um, tinha que brigar com os dois, o Tadeu era chamado de Padal, sem o R mesmo, ele tinha mania de comer algumas letras, se na leitura ela não se destacava, no futebol era um Einstein.
O Lucídio era daquelas almas que jamais farão mal a ninguém, nunca.
O Chumbinho era boa companhia para as aventuras, mas o irmão Edson era a mansidão e a tempestade, tudo ao mesmo tempo, ao mesmo tempo que defendia os menores, enfrentava o seu Odilon...o diabo em pessoa.
Em dias de visitas, a mãe do José Antônio trazia os bodes para todo mundo do pavilhão e o pai do Mamede, que trabalhava na prefeitura de Itapevi, vinha com o basculante e todo mundo subia na carroceria, só de zoeira.

Em pouco tempo, eu entendi que estava errado no que eu havia projetado para o futuro, no 14 eu me senti em casa e, tive os melhores amigos que uma pessoa podia ter tido na vida.

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