quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

O irmão Wilson.


Quando estive no Educandário Dom Duarte pela última vez, fiz questão de tirar uma foto com ele, junto dos meus irmãos e, foi o máximo, sempre tive um carinho especial por ele.
Essa pessoa com sotaque carregado do Sul, é o maior culpado pelo fato de eu nunca ter coragem de fazer uma tatuagem, não que eu tenha medo de agulhas, mas, viro a cara para não vê-la penetrar na minha pele.
Periodicamente faço exames de sangue e doação de sangue, esses procedimentos exigem que uma agulha penetre o corpo da pessoa e eu não olho, no caso da tatuagem, são várias vezes, aí não dá, estou fora.
A consideração dos meninos para com o irmão Wilson só não foi para o vinagre, por que ele comandava a banda e a força tarefa, essas duas funções, devolviam a leveza que a Benzetacil tirava deles.
Na assistência médica, tudo, absolutamente tudo, era tratado com a Benzetacil, quando os irmãos foram embora, ele ficou e continuaram a chamá-lo de irmão...a Benzetacil também ficou.
Em qualquer lugar que tivesse uma turma de internos e se um dissesse:
_. Estou com uma dor, acho que vou à assistência.
Imediatamente, os outros, pressentindo o que iria acontecer, punham a mão na nádega e gritavam:
_Aí.
Um dia eu fui correndo da administração até a assistência, carregava um bilhete na mão, a distância não é muito longa, existe uma subida acentuada ao lado do campo de cima que, mesmo sombreada pelos eucaliptos, cansa.
Fiquei cansado e ofegava, a porta estava aberta e não havia ninguém no banco de espera, bati na porta.
O irmão Wilson apareceu na extremidade oposta e me cumprimentou, fiz sinal com a cabeça e não consegui responder, tinha que tomar fôlego, me encostei na parede.
Ao ver o meu estado, ao invés de vir ao meu encontro, entrou na sala de curativos e saiu de lá com uma seringa e uma ampola, arregalei os olhos.
Ainda sem conseguir falar, fiz sinal negativo com os braços e, ele vinha com a danada em minha direção.
Quando ficou de frente a mim e, eu batia em sua cintura, pois eu tinha 10 anos, ele perguntou:
_Prefere no braço ou na bunda???
_Oi?!?!?
_. No braço ou na bunda, não vá me dar uma de mariquinhas.
E me segurou pelo braço, apavorado me desvencilhei e corri, entrei no corredor e entrei na sala do médico e subi na mesa, ele deixou a seringa na mão esquerda e, com grande habilidade, me imobilizou com a mão direita, sentou na cadeira e me trouxe para o colo, meu calção era daqueles de cordão e, já havia se desamarrado, estava no jeito...
Nesse exato instante eu recuperei o fôlego e gritei:
_. Pare irmão, eu só vim trazer um bilhete do seu Tinoco.
Me soltou, leu o bilhete e sorriu, me pareceu que iria pedir desculpas, não deu tempo, eu já havia me mandado dali.

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