sábado, 10 de dezembro de 2016

Um homem honesto



Na infância, quando a personalidade ainda não se formou, a criança precisa de exemplos, alguns adultos serão um exemplo a não ser seguidos, poucos deles, passarão a ser um modelo.
Homens e mulheres de posturas corretas, vão marcar a vida de uma criança e, mais tarde, serão a referência para o adulto que vai nascer.
Já falei sobre o costume dos internos do Educandário Dom Duarte, quando se juntavam em bandos e saíam para a escola.
Ainda que, não saíssem da calçada, passavam vaiando e rindo de vizinhos.
Sobre os vizinhos dos arredores também já falei, acaba que eu virei um, quando adulto.
O seu Alfredo morava na Eiras Garcia, no lado oposto da calçada que os meninos passavam e, quase sempre, estava capinando, limpando ou plantando um terreno baldio, mesmo que fosse tempo frio, não usava a camisa, tinha um chapéu de palha, uma calça social e as botas de Sete léguas.
Mesmo sendo engraçada a figura do seu Alfredo, os meninos não caçoavam, pelo contrário, essa figura passava uma profunda admiração.
Em procissão, os guris, naquele ponto da avenida, deparavam com a figura do seu Alfredo e gritavam:
_Bom dia, seu Alfredo.
Dono de uma simpatia cativante, ele soltava uma das mãos da enxada, segurava a ponta do chapéu e a forçava para baixo, gritava de volta:
_Bom dia meninos.
Fora do terreno, ele passava com um carrinho de mão, onde levava o seu produto para vender, ou em frente ao bar do Brás ou ao lado da portaria do Educa, onde passava logo período conversando com o seu Felipe, o porteiro.
Esse personagem fazia parte da paisagem e, era muito simpático, é claro que os guris lhe retribuíam a simpatia, agora que olhei a foto dele, me lembrou o Papai Noel e, bateu saudades do tempo de infância.
Anos depois, eu, o Celso do 13 e o Zé Almir do 12, estávamos no ponto de ônibus da portaria do Educa, tínhamos que pegar o buzão da CMTC e, esse demorava muito para passar, o seu Alfredo vendia o seu produto e sentado na guia, conversava conosco e ainda nos chamava de meninos.
A certa altura, disse que ia falar com o porteiro, não o seu Felipe, o seu Deoclécio, pediu que fizéssemos a gentileza de tomar conta do carrinho, sem problemas.
Se ele demorou uns 15 minutos, foi o tempo que levamos para vender toda a mercadoria...bom, ele não nos disse o preço e quando lhe entregamos o dinheiro, tomou um susto, havia o exato triplo da quantia que ele receberia, se tivesse vendido tudo.
Não deu para explicar, pois logo chegou o ônibus e embarcamos.
Quando voltamos ela ainda estava lá, e ficou plantado na portaria por uma semana, até devolver todo o dinheiro das pessoas que pagaram a mais.

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