segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

O Batata


Já fora do Educa, fomos visitar e tiramos essa foto. Eu, meu melhor amigo(Viana) e o Rogério Japonês, a máquina era do Ditinho e ele bateu as fotos, ali no 14 ficaram os guris mais novos, sempre que passávamos por lá, os guris faziam festa...esse guri que está usando o galho da Paineira feito cipó é o Batata, por ser loirinho recebeu o apelido de Alemão-Batata, com o passar dos tempos ficou só Batata.
Desses guris ligados na eletricidade, que nunca ficam quietos, vez em quando levávamo-lo pras aventuras.
Anos mais tarde, quando eu passeava por Mariana, em Minas, o cara que passava o som da banda do Lô Borges, quando me viu, me gritou e eu fiquei sem fazer ideia de quem se tratava, ele disse já me apertando contra o peito:
_Sou eu, o Batata... do lar 14.
Retribui o carinho, ele largou a mesa de som e fomos pra um boteco do outro lado da praça, chamamos umas brêjas e sentamo-nos.
Lembrou que começou a gostar dos caras do Clube da Esquina de tanto ouvir os meus discos e que tinha por mim o apreço de um irmão mais velho.
Eu fiquei espantado, é certo que, reencontrar um amigo depois de muitos anos é um motivo de alegria, eu só não entendia o que eu tinha feito pra merecer tal consideração.
Pra me justificar, entre um copo e outro, contou uma história, que eu participei e já havia me esquecido...
Assim que a dona Camila e o seu marido Carlão foram escorraçados da diretoria do E.D. D, todos os internos com mais de 14 anos foram transferidos pro lar 22, a princípio esqueceram-se de mim e eu tive que ficar no 14, a justificativa que deram foi que eu, por me dar bem com os menores, podia auxiliar o larista, ideia que não contou com a minha simpatia, eu queria ficar com os meus amigos.
Os laristas eram o Camargo e sua esposa Neuza, boas pessoas e ainda jovens, vi os meninos gozarem um tempo melhor que o meu, na idade deles.
Num belo fim de semana, o casal saiu de folga, não tinha emergente nenhum e disseram que o pavilhão estava sob a minha responsabilidade.
Fazer o quê? Fiquei de chefe por um fim de semana.
Servi o café da manhã, chá mate e um pedaço de filão com manteiga pra cada, havia uns 20 meninos, o resto fora passar o fim de semana com suas famílias. Assim que escovaram os dentes e cada um terminou a sua parte na escala, fui à sapateira e entreguei a bola e a recomendação que ficassem todos juntos, se alguém saísse, todos saíam.
Assim que eles desceram pro campo, peguei um livro e subi pros pés de uválha, sentei-me e comecei a leitura.
Nem bem tinha lido uns três capítulos, sobe um guri gritando:
_Niltão, o Batata se machucou, ele foi dar uma bicicleta e machucou o braço.
Antes de ele concluir eu já estava correndo pro campo, de cima do barranco, pude ver que havia um bolinho perto da trave e o Batata estava no chão, apressei o passo.
Os meninos abriram e eu pude avistar o Batata, ainda que eu não tenha demonstrado, a cena foi de arrepiar, o braço direito dele havia se soltado do osso e balançava, os outros meninos tinham olhares de puro desespero, eu também estava, mas peguei-o no colo e fui dando ordens:
_Danilo. Pega a chave e tranca o pavilhão, Leandro corre e vai chamar o irmão Wilson, fala pra ele ir pra enfermaria urgente, o resto vem comigo.
Ajeitei o braço que pendia, fechei o corpo dele nos meus braços e com a mão direita segurava o braço na posição que deveria ser, subimos o barranco do campo, paramos na estrada e esperamos o Danilo se juntar a nós, quando via o braço, o Batata desandava a chorar.
_Moleque, não olha pro braço, ninguém olha pro braço dele.
O Danilo chegou e iniciamos a jornada até a assistência, ao lado do pavilhão 11, dava pra ouvir os passos dos meninos, o atrito nas pedras e todos tinha uma apreensão em seus corações.
Quando chegamos no 12, disse pra cada um contar uma história, histórias ninguém sabia, uma piada mais besta que a outra, minha coluna doía meu braço direito estava duro, mas o Batata ria, ao chegar aos pés de jabuticaba, deu pra avistar a Assistência e o irmão Wilson não havia chegado ainda, falei pro moleques avançarem nos pés, uma parte seria dada pra mim e pro Batata.
Fizeram à limpa e fomos pra entrada da Assistência, enquanto o socorro não chegava, os meninos voltaram a atacar com suas piadas, quando a Kombi do seu Matos chegou com o irmão Wilson, o Batata já estava tendo convulsões... de tanto rir.
Sem o nosso medo, o enfermeiro pegou o braço, ajeitou-o e enfaixou, havia passado na administração e pego a ficha do menino e o levou pro hospital.
Voltamos ao pavilhão e ninguém mais queria jogar bola, ficamos todos na área em silêncio, a cabeça voltada pro destino do Batata, deu a hora do almoço e descemos pra cozinha central em silêncio.
A Kombi chegou à mesma hora que nós, o irmão Wilson me entregou o menino com o braço engessado, eu e os guris ficamos felizes.
Assim que desceu do carro gritou:
_Aquela partida não terminou, vou querer revanche.

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