segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Os caras da antiga.


Já disse que passei um determinado período da minha vida no Educa, mas não convivi só com os caras do meu tempo, os mais antigos eram funcionários e uma parte deles vinha visitar o colégio e alguns moravam perto de lá.
Também disse que eu fui adotado pelo Ditinho e, como ele e o Batista se consideravam irmãos, esse segundo me chamava de sobrinho.
Contaram que eles e mais dois amigos da idade deles, nos anos 60, gravaram um compacto duplo, formaram um conjunto no estilo dos "Golden Boys", nunca me mostraram esse disco, mas juraram que o Batista o guardava a sete chaves.
Tinham eles aquele habita de dizer:
_No meu tempo isso, no meu tempo aquilo...
Eram de outra geração, ainda que esse papo me aborrecesse, eu respeitava e ouvia as histórias deles.
Depois que sai do Educa, fui morar com o Ditinho na Avenida 9 de Julho, vez em quando voltávamos ao Educa, pra visitar o Batista e os dois caiam sempre com a mesma ladainha... No meu tempo, no meu tempo.
Essa era o tempo das baladas e em todos os salões de São Paulo eu curti, todos os bailes Black tive a honra de conhecer.
Numa das visitas, o Batista sugeriu que eu fosse ao baile do Clube Holmes, mas que dificilmente eu poderia entrar, já que a casa era frequentada pelo pessoal mais velho.
_Pelos Dinossauros? Brinquei com eles.
Tinha mesmo a fama, a molecada não frequentava a casa, os frequentadores eram chamados de "Nêgo véio".
A vontade de entrar nessa pista foi tanta que, no outro fim de semana eu arredondei o Black, vesti a minha camisa branca com gola alta e babada no pulso, calça preta e o mocassim bicolor e. O Dito ainda dizendo que eu não entraria.
Pegamos um ônibus e descemos na Praça da Sé, dali pra Liberdade foi um pulo, na entrada havia um segurança tipo ÃO... altão, fortão e negão.
Quando eu e o Dito nos aproximamos, já com os ingressos na mão, esticou o braço em nossa direção.
_Para, moleque não entra.
Pra me defender menti:
_Já tenho 18 anos.
O segurança não me ouviu, sequer olhou pra minha fachada, apontou para os pés do Ditinho, ele estava calçando um All Star Converter de cano alto.
_Moleque de tênis não entra.
Contrariado, ele disse em sua defesa:
_Mas, esse menino é meu filho.
Eu já na roleta e o meu ingresso na mão da bilheteira, o segurança a me olhar, pra confirmar a história do Ditinho.
Dei de ombros e disse:
_Não, não conheço essa pessoa.

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