segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

A primeira guerra


Quando criança eu tinha o habito de comparar qualquer alteração de meu comportamento com uma guerra, cada uma delas(e não foram poucas) tinha importância vital para minha sobrevivência, algumas até para afirmar minha posição, com relação a tudo na minha vida, outras me levaram a evolução como homem...essa era a maior delas, eu tremia, eu já havia brigado bastante até ali...era até bom nisso, mas nunca havia parecido suicídio, como agora parecia.
Eu tinha 10 anos e magro, não era muito alto para a minha idade...aquela besta que eu estava prestes a enfrentar tinha uns 12 anos, estava no seu terreno, rodeado de seus amigos, um porte físico equivalente ao dobro do meu e...você já realmente visualizou a diferença entre um guri de 10 e outro de 12...nem dá pra comparar.
Enquanto o rapaz da rouparia entregava nossas roupas, notei que a primeira tentativa de me impor não tinha surtido efeito algum, eu diria que tinha dado muito errado, pois o garoto ainda não tinha partido pra pancadaria pelo fato do chefe estar perto de nós e ele parecia bufar de raiva.
Fiquei sabendo que apartir daquele momento todas as minhas roupas teriam o carimbo de meu numero de cadastro, um carimbo com 3 algarismos, na gola da camisa, na parte de dentro da calça, nos shorts e nas cuecas...meu nome, para todo efeito era 152.
Nesse ponto, os meninos que estavam brincando atrás do pavilhão já nos acompanhavam e sabiam que havia chegado um novão folgado e...é lógico farejavam a arenga que se aproximava, quando entramos no corredor que dava para os 3 dormitório para conhecer nossa cama e nosso armário, sem que a maior parte das pessoas percebesse, o infeliz do menino colocou o pé na frente para que eu pudesse cair...não cai, mas a audiência sorriu, não tinha mais como voltar atrás.
O almoço foi arroz com feijão e fígado com batata, durante a refeição ele e mais uns 3 me atiraram grãos de feijão escondidos e riam.Um deles, ao terminar a refeição, quando passava pela minha mesa chutou a minha cadeira, uns meninos riam, outros ignoravam e outros pareciam solidários, olhavam com uma certa admiração para o meu olhar de impáfia, ou era dó mesmo.
Quando estávamos descansando do almoço, na frente do pavilhão as ameaças continuavam...eu estava sentado ao lado do meu irmão, na sombra do pé de uválha, os meninos riam provocativos, pensei em começar a briga ali mesmo, quando o Salvador, um rapaz mais velho que nós e que de vez em quando fazia as vezes de chefe, apareceu com uma bola de capotão, chamando-nos a todos para jogar futebol.
Não teve um que não quisesse bater uma bola, fomos ao campo do 14, era só atravessar a estrada que ia pro 18 e descer o barranco(o campo do 14 era o mais invejado de todos os campos do pavilhões de EDD) entre o mandiocal do 14 e a horta do japonês, na laterais, os pés de abacates na cabeceira e o matagal da olaria, tinha um quê de arena, pois era mais baixo que seus quatro delineares, de qualquer lado se podia sentir-se numa arquibancada.
A descida pra se chegar no campo era íngrime, desciámos em fila indiana, já se escolhiam os times na descida, lembro de ter ouvido alguém dizer que o novão jogaria no seu time.O menino quis se indignar com isso, olhou pra trás, mas já era tarde, eu o havia atingido com um soco na nuca...esse era o plano, pulei em cima dele antes que ele percebesse o que o tinha atingido, segurei seus braços com meu joelhos e desferi uns 3 socos, alguns meninos me seguraram os braços ele se aproveitou e segurou-me, pelo pescoço, deu uma cotovelada, estava aturdido e sangrava, jamais esperaria que aquilo pudesse acontecer, nas mãos dos meninos eu esperei o momento certo, ele se aproximou de meu rosto, fechou os punhos, usei a proximidade, ele deu um soco, mas era tarde, ajeitei o corpo, apoiei-me nas pernas, projetei minha cabeça, minha testa atingiu em cheio o nariz ele caiu...os meninos que me seguravam foram socorre-lo.

Um comentário:

  1. morei no 14 epoca de 1977 a 82 sr odilon e dna ana bons tempos meu numero era 142

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